Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «Quando o Filho do Homem vier na sua glória, acompanhado por todos os seus anjos, há-de sentar-se no seu trono de glória.
Perante Ele, vão reunir-se todos os povos e Ele separará as pessoas umas das outras, como o pastor separa as ovelhas dos cabritos.
À sua direita porá as ovelhas e à sua esquerda, os cabritos.
O Rei dirá, então, aos da sua direita: 'Vinde, benditos de meu Pai! Recebei em herança o Reino que vos está preparado desde a criação do mundo.
Porque tive fome e destes-me de comer, tive sede e destes-me de beber, era peregrino e recolhestes-me,
estava nu e destes-me que vestir, adoeci e visitastes-me, estive na prisão e fostes ter comigo.’
Então, os justos vão responder-lhe: 'Senhor, quando foi que te vimos com fome e te demos de comer, ou com sede e te demos de beber?
Quando te vimos peregrino e te recolhemos, ou nu e te vestimos?
E quando te vimos doente ou na prisão, e fomos visitar-te?’
E o Rei vai dizer-lhes, em resposta: 'Em verdade vos digo: Sempre que fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, a mim mesmo o fizestes.’
Em seguida dirá aos da esquerda: 'Afastai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, que está preparado para o diabo e para os seus anjos!
Porque tive fome e não me destes de comer, tive sede e não me destes de beber,
era peregrino e não me recolhestes, estava nu e não me vestistes, doente e na prisão e não fostes visitar-me.’
Por sua vez, eles perguntarão: 'Quando foi que te vimos com fome, ou com sede, ou peregrino, ou nu, ou doente, ou na prisão, e não te socorremos?’
Ele responderá, então: 'Em verdade vos digo: Sempre que deixastes de fazer isto a um destes pequeninos, foi a mim que o deixastes de fazer.’
Estes irão para o suplício eterno, e os justos, para a vida eterna.»
Comentário ao Evangelho
«Recebei em herança o Reino que vos está preparado desde a criação do mundo»
«O próprio Filho Se submeterá Àquele que tudo Lhe submeteu» diz São Paulo (1Co 15,28), não no sentido de, ao entregar-Lhe o Reino, renunciar ao Seu poder, mas porque seremos nós o Reino de Deus, quando nos tornarmos conformes à glória do Seu corpo. É a nós que Ele entregará a Deus, depois de nos ter constituído «Reino de Deus» pela glorificação do Seu corpo. E a nós que Ele entregará ao Pai, enquanto Reino, segundo o que está escrito no Evangelho: «Vinde, benditos de Meu Pai! Recebei em herança o Reino que vos está preparado desde a criação do mundo».
«Então os justos resplandecerão como o Sol, no Reino de Seu Pai» (Mt 13,43). Pois o Filho entregará a Deus, como sendo o Seu Reino, aqueles que convidou para o Seu Reino, aqueles a quem prometeu a beatitude própria desse mistério, pelas Suas palavras: «Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus» (Mt 5,8). Cristo entrega a Deus o Seu Reino e eis que aqueles que Ele entrega a Deus como sendo o Seu Reino vêem a Deus. O próprio Senhor declarou aos Seus apóstolos em que consiste esse Reino: «O Reino dos céus está no meio de vós» (Lc 17,21).
E, se alguém deseja saber Quem é Aquele que entrega o Reino, oiça: «Cristo ressuscitou dos mortos, como primícias dos que morreram. Porque, assim como por um homem veio a morte, também por um homem vem a ressurreição dos mortos» (1Co 15,20-21). Tudo isto se refere ao mistério do Corpo, porque Cristo é o primeiro ressuscitado de entre os mortos. Assim, para progresso da humanidade assumida por Cristo, «Deus será tudo em todos» (1Co 15,28).
Evangelho segundo S. Lucas 23,35-43.
O povo permanecia ali, a observar; e os chefes zombavam, dizendo: «Salvou os outros; salve-se a si mesmo, se é o Messias de Deus, o Eleito.» Os soldados também troçavam dele. Aproximando-se para lhe oferecerem vinagre, diziam: «Se és o rei dos judeus, salva-te a ti mesmo!» E por cima dele havia uma inscrição: «Este é o rei dos judeus.» Ora, um dos malfeitores que tinham sido crucificados insultava-o, dizendo: «Não és Tu o Messias? Salva-te a ti mesmo e a nós também.» Mas o outro, tomando a palavra, repreendeu-o: «Nem sequer temes a Deus, tu que sofres o mesmo suplício? Quanto a nós, fez-se justiça, pois recebemos o castigo que as nossas acções mereciam; mas Ele nada praticou de condenável.» E acrescentou: «Jesus, lembra-te de mim, quando estiveres no teu Reino.» Ele respondeu-lhe: «Em verdade te digo: hoje estarás comigo no Paraíso.»
Da Bíblia Sagrada
Comentário ao Evangelho
«Pilatos disse: "Aqui está o vosso Rei"» (Jo 19,14).
Bendito seja Deus! Festejemos o Filho único, o Criador dos céus, que lá ascendeu após ter descido às profundezas do inferno, e que envolve a terra inteira com os raios da Sua luz. Festejemos o sepultamento do Filho único e a Sua Ressurreição de vencedor, o júbilo do mundo inteiro e a vida de todos os povos.
Tudo isto nos foi obtido assim que o Criador ressurgiu dos mortos, ao rejeitar a ignomínia e transformando, no Seu esplendor divino, o perecível em imperecível. E qual foi a ignomínia rejeitada? Isaías dá-nos a resposta: «Sem figura nem beleza, vimo-Lo sem aspecto atraente, desprezado e abandonado pelos homens» (53, 2-3). E quando ficou Ele sem a Sua glória? Quando carregou aos ombros a madeira da cruz como troféu da Sua vitória sobre o diabo. Assim que Lhe foi posta na cabeça uma coroa de espinhos, a Ele, que coroa os Seus fiéis. Assim que foi revestido de púrpura Aquele que reveste de imortalidade os que renascem da água e do Espírito Santo. Assim que pregaram à madeira o Senhor da vida e da morte.
Aquele, porém, que ficou sem a Sua glória foi transfigurado na luz, e o júbilo do mundo despertou com o Seu corpo. «O Senhor é Rei, vestido de majestade» (Sl 93 (92), 1). De que majestade Se vestiu Ele? De incorruptibilidade, de imortalidade, do chamamento dos Apóstolos, da coroa da Igreja. [...] São Paulo é disso testemunho, ao dizer: «É, de facto, necessário que este ser mortal se revista de imortalidade» (1Cor 15, 53). E o salmista diz também: «O Teu trono, Senhor, está firme desde sempre, e Tu existes desde a eternidade; o Teu reino é um reino para toda a eternidade, e o Teu domínio estende-se por todas as gerações» (Sl 93 (92), 2; 145 (144), 13). E ainda: «O Senhor é Rei: alegre-se a terra e rejubile a multidão das ilhas!» (Sl 97 (96), 1). A Ele a glória e o poder, ámen!
Hoje celebra-se a solenidade de Cristo Rei.
O anúncio de um "Filho do Homem" que virá "sobre as nuvens" para instaurar um reino que "não será destruído" leva-nos a Jesus.
Ele veio ao encontro dos homens para lhes propor uma nova ordem, em que os pobres, os débeis, os fracos, os marginalizados, aqueles que não podem fazer ouvir a sua voz, não serão mais humilhados e espezinhados.
Jesus introduziu na história uma nova lógica, substituindo a lógica do orgulho e do egoísmo, por uma lógica de amor, de serviço, de doação. É verdade que, mais de dois mil anos depois do nascimento de Jesus, esse reino ainda não se tornou uma realidade plena da nossa história; contudo, o reino proposto por Jesus está presente na vida do mundo, como uma semente a crescer ou como o fermento a levedar a massa.
Compete-nos a nós, discípulos de Jesus, fazer com que esse reino seja, cada dia mais, uma realidade bem viva, bem presente, bem actuante no nosso mundo.
VIVA JESUS CRISTO, O ÚNICO REI E SALVADOR DO MUNDO.
A ELE TODA A HONRA, GLÓRIA E LOUVOR.