Evangelho segundo S. João 14,23-29.
Respondeu-lhe Jesus: «Se alguém me tem amor, há-de guardar a minha palavra; e o meu Pai o amará, e Nós viremos a ele e nele faremos morada. Quem não me tem amor não guarda as minhas palavras; e a palavra que ouvis não é minha, mas é do Pai, que me enviou». «Fui-vos revelando estas coisas enquanto tenho permanecido convosco; mas o Paráclito, o Espírito Santo que o Pai enviará em meu nome, esse é que vos ensinará tudo, e há-de recordar-vos tudo o que Eu vos disse.» «Deixo-vos a paz; dou-vos a minha paz. Não é como a dá o mundo, que Eu vo-la dou. Não se perturbe o vosso coração nem se acobarde. Ouvistes o que Eu vos disse: 'Eu vou, mas voltarei a vós.' Se me tivésseis amor, havíeis de alegrar-vos por Eu ir para o Pai, pois o Pai é mais do que Eu. Digo-vo-lo agora, antes que aconteça, para crerdes quando isso acontecer.
Da Bíblia Sagrada
Comentário ao Evangelho do dia feito por:
Santa Teresa de Ávila (1515-1582), carmelita, doutora da Igreja
Relações diversas, 46, 48
«Se alguém Me tem amor, [...] viremos a ele e nele faremos morada.»
Usufruía certo dia, estando recolhida, desta companhia que tenho sempre na alma; e pareceu-me que Deus aí Se encontrava, de tal maneira que me recordei daquelas palavras de São Pedro: «Tu és o Cristo, o Filho de Deus vivo» (Mt 16, 16), porque Deus estava realmente vivo em mim. Esta tomada de consciência não se assemelhava às outras, pois elevava o poder da fé; não se pode duvidar de que a Trindade está na nossa alma com uma presença especial, com o Seu poder e a Sua essência. Espantada por ver tão alta Majestade em criatura tão vil como a minha alma, ouvi estas palavras: «A tua alma não é vil, minha filha, porque foi feita à Minha imagem» (cf. Gn 1, 27).
Noutro dia, meditava nesta presença das três Pessoas divinas em mim, e a luz era de tal maneira viva, que não havia dúvida de que ali estava o Deus vivo, o Deus verdadeiro. [...] Pensei na amargura desta vida, que nos impede de estar sempre em tão admirável companhia e [...] o Senhor disse-me: «Minha filha, depois desta vida não poderás servir-Me como agora. Por isso, quer comas, quer durmas, quer faças outra coisa qualquer, faz tudo por Mim, como se já não te tivesses a ti, mas só a Mim em ti, como proclamou São Paulo (cf. Gal 2, 20).»