SÓ DEUS PODE DAR AMOR, MAS TU PODES ENSINAR A AMAR... SÓ DEUS É O CAMINHO, MAS TU PODES INDICÁ-LO AOS OUTROS... SÓ DEUS É A LUZ, MAS TU PODES FAZÊ-LA BRILHAR... SÓ DEUS SE BASTA A SI MESMO, MAS QUER PRECISAR DE TI E CONTAR CONTIGO...

Eram dois amigos que gostavam das distâncias e do céu aberto.
Quase todos os fins-de-semana se faziam à estrada e iam por aí fora.
Quando a noite chegava, montavam a tenda e ficavam a ver as estrelas e a ouvir a noite.
As melhores recordações eram sempre o luar que as trazia e a noite que as guardava.
Desta vez, não resistiram ao convite de participar numa festa na aldeia vizinha. Era do outro lado do rio, mas a largura do rio era curta e mansas as águas. Tomaram o barco e lá seguiram para a outra margem. A festa estava animada, o tempo não tinha pressa e os dois amigos lá foram ficando, comungando a alegria geral.
Festa sem vinho não era festa, pelo menos nos pergaminhos daquelas encostas cobertas de sol e de vinhedos. Quando acharam que eram horas de regressar, tento um como o outro tinham já dificuldade de saber para que lado estava a estrela polar, que o vinho é fraco guia para distinguir as estrelas. Mesmo embriagados como estavam, lá conseguiram chegar ao barco para a viagem de regresso. Chegados ao barco foi só pegar nos remos e fazer-se ao largo, que bem se lembravam, o acampamento ficava na outra margem. Rema que rema, aquela travessia parecia não ter fim. De vez em quando paravam para recuperar o fôlego e depois prosseguiam a viagem. Mas nunca o rio lhes pareceu tão largo nem a margem tão longe.
Ás tantas, disse um para o outro:
- Não te parece que já era tempo de termos chegado à outra margem?
O companheiro disse que sim, que lhe parecia que era já tempo de terem chegado. Mas a verdade é que da outra margem nem sinais, por mais que remassem.
Até que, quando a manhã chegou foi com espanto que viram estar ainda no mesmo ponto de partida. Tinham-se esquecido de desamarrar a corda que prendia o barco ao cais.
O problema da Vida Cristã não é a falta de barco nem de remos para o pôr em movimento. O que nos falta, é cortar as amarras que nos tolham os movimentos e nos impedem, de avançar para o mar largo, e não deixam que os nossos textos saiam do cais onde foram escritos e onde estão em segurança.
O mar largo tem riscos e nem sempre estamos decididos a fazer frente ao mar como Camões com o Lusíadas…