Escuta, meu Deus! É a primeira vez que te falo. Mas agora quero perguntar-te: Como vais?
Vê só, meu Deus: disseram-me que Tu não existias e eu, como um verdadeiro tolo, acreditei.
Na outra noite, quando eu estava de sentinela na trincheira, comecei a olhar para o céu. Vi as estrelas que brilhavam e toda a imensidão do Universo.
Foi então que descobri que me tinham mentido. Se eu me tivesse dado trabalho de observar tudo o que fizeste, teria compreendido que era impossível Tu não existires. Tal obra só podia vir das Tuas mãos, meu Deus!
Agora, eu pergunto-me: Será que aceitarias, meu Deus, apertar a minha mão? Olhar os meus olhos e ver o quanto falo verdade? Sinto que me entenderás! Existe dentro de mim um lugar profundo onde sei que Tu estás.
Interessante! Foi preciso que eu viesse a este inferno de guerra, para ter tempo de conhecer a Tua face!
Bem, não tenho muito mais a dizer-Te . contudo, estou feliz porque hoje Te encontrei.
Parece que se aproxima uma batalha feroz. Todavia, já não tenho medo, porque sei que estás aqui por perto.
Tocou o sino. Tenho que ir andando. Não posso estar mais tempo.
Faço questão que saibas que Te amo muitíssimo. Quem sabe se ainda esta noite irei fazer-Te uma visita?!
Embora não fosse Teu amigo no passado, gostaria de saber, meu Deus, se me esperarias à porta de Tua casa. Ora, ora, estou quase a chorar, tenho os olhos marejados.
Como eu gostaria de ter-Te conhecido há mais tempo!
Tocou de novo. Preciso de ir. Até logo, meu Deus.
Engraçado, depois do nosso encontro, até já perdi o medo de morrer!
(Escrito encontrado no bolso de um soldado americano, morto durante a guerra)