Evangelho segundo S. João 16,12-15.
«Tenho ainda muitas coisas a dizer-vos, mas não sois capazes de as compreender por agora. Quando Ele vier, o Espírito da Verdade, há-de guiar-vos para a Verdade completa. Ele não falará por si próprio, mas há-de dar-vos a conhecer quanto ouvir e anunciar-vos o que há-de vir. Ele há-de manifestar a minha glória, porque receberá do que é meu e vo-lo dará a conhecer. Tudo o que o Pai tem é meu; por isso é que Eu disse: 'Receberá do que é meu e vo-lo dará a conhecer'.»
Da Bíblia Sagrada
Comentário ao Evangelho
São João da Cruz (1542-1591), carmelita, Doutor da Igreja
Poema «Cantar da alma que folga em conhecer a Deus por fé», Obras completas, Edições Carmelo, 2005 p. 68
«Um só Deus, um só Senhor, não na unidade de uma só pessoa, mas na trindade de uma só natureza» (Prefácio)
Que bem sei eu a fonte que mana e corre
Mesmo sendo noite!
Aquela eterna fonte está escondida.
Bem eu sei onde tem sua guarida,
Mesmo sendo noite!
Sei que não pode haver coisa tão bela
E sei que os céus e a terra bebem dela,
Mesmo sendo noite!
Sua origem não a sei, pois não a tem,
Mas sei que toda a origem dela vem
Mesmo sendo noite!
O fundo dela, sei, não pode achar-se;
Jamais por ela a vau pode passar-se,
Mesmo sendo noite!
É claridade nunca escurecida
E sei que toda a luz dela é nascida,
Mesmo sendo noite!
Tão caudalosas são as suas correntes
Que céus e infernos regam, mais as gentes,
Mesmo sendo noite!
Nascida de tal fonte, esta corrente
Bem sei que é mui capaz e omnipotente,
Mesmo sendo noite!
Das duas a corrente que procede
Sei que nenhuma delas antecede,
Mesmo sendo noite!
Aquela eterna fonte está escondida
Neste pão vivo para dar-nos vida,
Mesmo sendo noite!
Aqui está chamando as criaturas:
Desta água se saciem, e ás escuras,
Porque é de noite!
É esta a viva fonte que desejo
E neste pão de vida é que eu a vejo,
Mesmo sendo noite!
Evangelho segundo S. João 20,19-23.
Ao anoitecer daquele dia, o primeiro da semana, estando fechadas as portas do lugar onde os discípulos se encontravam, com medo das autoridades judaicas, veio Jesus, pôs-se no meio deles e disse-lhes: «A paz esteja convosco!» Dito isto, mostrou-lhes as mãos e o peito. Os discípulos encheram-se de alegria por verem o Senhor. E Ele voltou a dizer-lhes: «A paz seja convosco! Assim como o Pai me enviou, também Eu vos envio a vós.» Em seguida, soprou sobre eles e disse-lhes: «Recebei o Espírito Santo. Àqueles a quem perdoardes os pecados, ficarão perdoados; àqueles a quem os retiverdes, ficarão retidos.»
Da Bíblia Sagrada
Comentário ao Evangelho do dia feito por:
Santo António de Lisboa (c. 1195-1231), franciscano, Doutor da Igreja
Sermões para o domingo e as festas dos santos (a partir da trad. Bayart, eds. Franciscanas 1944, p. 170)
«Também vós dareis testemunho»
Pentecostes é a palavra grega que quer dizer «quinquagésimo». Este quinquagésimo dia, que o povo judaico festejava, contava-se a partir do dia em que tinham imolado o cordeiro pascal; e isto porque, cinquenta dias depois da saída do Egipto, a Lei foi dada no cume incendiado do monte Sinai. Assim também, no Novo Testamento, cinquenta dias depois da Páscoa de Cristo, o Espírito Santo descia sobre os apóstolos e aparecia-lhes sob a forma de fogo. A Lei foi dada sobre o monte Sinai, o Espírito sobre o monte Sião; a Lei foi dada no cume da montanha, o Espírito no Cenáculo.
«Todos os discípulos estavam reunidos no mesmo lugar. Subitamente fez-se ouvir um grande barulho». [...] Como diz o salmo, «o ímpeto do rio alegra a cidade de Deus» (45, 5). Um grande barulho acompanha a chegada Daquele que vem ensinar os fiéis. Notai como isso está de acordo com o que lemos no Êxodo: «Era já chegado o terceiro dia, e já tinha amanhecido, eis senão quando começaram a ouvir-se trovões, e o fuzilar de relâmpagos; e uma nuvem muito espessa cobriu o monte e um som de buzina muito forte atroava e todo o povo se atemorizou» (19, 16). O primeiro dia foi a Incarnação de Cristo; o segundo dia foi a Sua Paixão; o terceiro dia é a missão do Espírito Santo. Chegou este dia: ouve-se o trovão, faz-se um grande barulho; brilham os relâmpagos, os milagres dos apóstolos; uma espessa nuvem – a compunção do coração e a penitência – cobre a montanha, o povo de Jerusalém (Act 2, 37-38). [...]
«Apareceu-lhes então como línguas de fogo». As línguas, as da serpente, de Eva e de Adão, tinham aberto à morte o acesso a este mundo. [...] É por isso que o Espírito aparece sob a forma de línguas, opondo línguas às línguas, curando pelo fogo o veneno mortal. [...] «Eles começaram a falar.» Eis o sinal da plenitude; o vaso repleto transborda; o fogo não pode conter-se. [...] Estas línguas diversas são as diferentes lições que Cristo nos deixou, como a humildade, a pobreza, a paciência, a obediência. Falamos essas línguas diversas quando damos ao próximo o exemplo dessas virtudes. Viva está a palavra, quando falam as obras. Façamos falar as nossas obras!
Evangelho segundo S. João 17,20-26.
Não rogo só por eles, mas também por aqueles que hão-de crer em mim, por meio da sua palavra, para que todos sejam um só, como Tu, Pai, estás em mim e Eu em ti; para que assim eles estejam em Nós e o mundo creia que Tu me enviaste. Eu dei-lhes a glória que Tu me deste, de modo que sejam um, como Nós somos Um. Eu neles e Tu em mim, para que eles cheguem à perfeição da unidade e assim o mundo reconheça que Tu me enviaste e que os amaste a eles como a mim. Pai, quero que onde Eu estiver estejam também comigo aqueles que Tu me confiaste, para que contemplem a minha glória, a glória que me deste, por me teres amado antes da criação do mundo. Pai justo, o mundo não te conheceu, mas Eu conheci-te e estes reconheceram que Tu me enviaste. Eu dei-lhes a conhecer quem Tu és e continuarei a dar-te a conhecer, a fim de que o amor que me tiveste esteja neles e Eu esteja neles também.»
Da Bíblia Sagrada
Comentário ao Evangelho do dia feito por:
Concílio Vaticano II
Decreto sobre o ecumenismo, 7-8 – Copyright © Libreria Editrice Vaticana
«Para que todos sejam um só»
Não há verdadeiro ecumenismo sem conversão interior. É que os anseios de unidade nascem e amadurecem a partir da renovação da mente (Ef 4, 23), da abnegação de si mesmo e da libérrima efusão da caridade. [...] Lembrem-se todos os cristãos de que tanto melhor promoverão e até realizarão a união dos cristãos quanto mais se esforçarem por levar uma vida mais pura, de acordo com o Evangelho. Porque, quanto mais unidos estiverem em comunhão estreita com o Pai, o Verbo e o Espírito, tanto mais íntima e facilmente conseguirão aumentar a fraternidade mútua.
Esta conversão do coração e esta santidade de vida, juntamente com as orações particulares e públicas pela unidade dos cristãos, devem ser tidas como a alma de todo o movimento ecuménico e com razão podem ser chamadas ecumenismo espiritual.
É coisa habitual entre os católicos reunirem-se frequentemente para aquela oração pela unidade da Igreja que o próprio Salvador pediu ardentemente ao Pai, na vigília de Sua morte: «Que todos sejam um». Em algumas circunstâncias peculiares, como por ocasião das orações prescritas «pro unitate» em reuniões ecuménicas, é lícito e até desejável que os católicos se associem aos irmãos separados na oração. Tais preces comuns são certamente um meio muito eficaz para suplicar a unidade. São uma genuína manifestação dos vínculos pelos quais ainda estão unidos os católicos com os irmãos separados: «Onde dois ou três estão congregados em Meu nome, ali estou Eu no meio deles» (Mt. 18, 20).
Evangelho segundo S. João 14,23-29.
Respondeu-lhe Jesus: «Se alguém me tem amor, há-de guardar a minha palavra; e o meu Pai o amará, e Nós viremos a ele e nele faremos morada. Quem não me tem amor não guarda as minhas palavras; e a palavra que ouvis não é minha, mas é do Pai, que me enviou». «Fui-vos revelando estas coisas enquanto tenho permanecido convosco; mas o Paráclito, o Espírito Santo que o Pai enviará em meu nome, esse é que vos ensinará tudo, e há-de recordar-vos tudo o que Eu vos disse.» «Deixo-vos a paz; dou-vos a minha paz. Não é como a dá o mundo, que Eu vo-la dou. Não se perturbe o vosso coração nem se acobarde. Ouvistes o que Eu vos disse: 'Eu vou, mas voltarei a vós.' Se me tivésseis amor, havíeis de alegrar-vos por Eu ir para o Pai, pois o Pai é mais do que Eu. Digo-vo-lo agora, antes que aconteça, para crerdes quando isso acontecer.
Da Bíblia Sagrada
Comentário ao Evangelho do dia feito por:
Santa Teresa de Ávila (1515-1582), carmelita, doutora da Igreja
Relações diversas, 46, 48
«Se alguém Me tem amor, [...] viremos a ele e nele faremos morada.»
Usufruía certo dia, estando recolhida, desta companhia que tenho sempre na alma; e pareceu-me que Deus aí Se encontrava, de tal maneira que me recordei daquelas palavras de São Pedro: «Tu és o Cristo, o Filho de Deus vivo» (Mt 16, 16), porque Deus estava realmente vivo em mim. Esta tomada de consciência não se assemelhava às outras, pois elevava o poder da fé; não se pode duvidar de que a Trindade está na nossa alma com uma presença especial, com o Seu poder e a Sua essência. Espantada por ver tão alta Majestade em criatura tão vil como a minha alma, ouvi estas palavras: «A tua alma não é vil, minha filha, porque foi feita à Minha imagem» (cf. Gn 1, 27).
Noutro dia, meditava nesta presença das três Pessoas divinas em mim, e a luz era de tal maneira viva, que não havia dúvida de que ali estava o Deus vivo, o Deus verdadeiro. [...] Pensei na amargura desta vida, que nos impede de estar sempre em tão admirável companhia e [...] o Senhor disse-me: «Minha filha, depois desta vida não poderás servir-Me como agora. Por isso, quer comas, quer durmas, quer faças outra coisa qualquer, faz tudo por Mim, como se já não te tivesses a ti, mas só a Mim em ti, como proclamou São Paulo (cf. Gal 2, 20).»
Evangelho segundo S. João 13,31-33.34-35.
Depois de Judas ter saído, Jesus disse: «Agora é que se revela a glória do Filho do Homem e assim se revela nele a glória de Deus. E, se Deus revela nele a sua glória, também o próprio Deus revelará a glória do Filho do Homem, e há-de revelá-la muito em breve.» «Filhinhos, já pouco tempo vou estar convosco. Haveis de me procurar, e, assim como Eu disse aos judeus: 'Para onde Eu for vós não podereis ir', também agora o digo a vós. Dou-vos um novo mandamento: que vos ameis uns aos outros; que vos ameis uns aos outros assim como Eu vos amei. Por isto é que todos conhecerão que sois meus discípulos: se vos amardes uns aos outros.»
Da Bíblia Sagrada
Comentário do Evangelho feito por:
Bem-aventurada Teresa de Calcutá (1910-1997), fundadora das Irmãs Missionárias da Caridade
Um caminho simples
«Que vos ameis uns aos outros assim como Eu vos amei.»
Digo sempre que o amor começa em casa. Primeiro está a família, depois a cidade. É fácil fingir amar as pessoas que estão longe; mas é muito menos fácil amar aqueles que vivem connosco ou que estão muito perto de nós. Desconfio dos grandes projectos impessoais, porque o importante são as pessoas. Para se amar alguém, é preciso estar perto dessa pessoa. Toda a gente precisa de amor. Todos nós precisamos de saber que temos importância para os outros e que temos um valor inestimável aos olhos de Deus.
Cristo disse: «Que vos ameis uns aos outros assim como Eu vos amei». E disse também: «Aquilo que fizerdes ao mais pequeno dos Meus irmãos, a Mim o fazeis» (Mt 25, 40). É a Ele que amamos em cada pobre, e todos os seres humanos são pobres de alguma coisa. Disse Ele: «Tive fome e destes-Me de comer, estava nu e vestistes-Me» (Mt 25, 35). Recordo sempre às minhas irmãs e aos nossos irmãos que o nosso dia consiste em passar vinte e quatro horas com Jesus.